E a nossa jornada pelos primórdios da óptica brasileira continua.
No início dos anos 1830, o trabalho do oculista mecânico alemão Joseph Herschel era bastante valorizado, o que lhe garantiu clientes ilustres. Entre eles, estava o jovem Dom Pedro II. Vamos à segunda parte da história da óptica no Brasil.
PARTE II – DOM PEDRO II, O IMPERADOR DAS LETRAS
É interessante notar um autorretrato feito pelo jovem príncipe aos nove anos de idade, em que ele é representado de óculos. Este registro foi feito em 1834, durante as aulas de seu mestre de desenho Simplício Rodrigues de Sá, discípulo de Jean B. Debret. O fim do Primeiro Reinado foi tenso e, em abril de 1831, o imperador Dom Pedro I retorna a Portugal, deixando no Brasil seu filho, o príncipe regente Dom Pedro, aos cuidados de tutores e de Dona Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho, sua mãe no amor e na criação. Foi pelas mãos prestimosas de Dona Mariana de Verna que o jovem príncipe, com pouca idade, aprendeu a ler e escrever.
O príncipe regente e suas irmãs passavam a maior parte do tempo no Paço Imperial da Quinta da Boa Vista, onde habitavam o primeiro andar. Além das brincadeiras de soldado e dos exercícios de esgrima, dirigidos pelo Coronel Luís Alves de Lima, futuro Duque de Caxias, a leitura era o passatempo preferido do menino. No local, havia uma biblioteca trazida pela Imperatriz Leopoldina em 1871 e também uma coleção de livros do próprio príncipe, localizada no espaço palaciano chamado de Torreão Velho. O menino, a cada ano, aprimorava a sua já vasta cultura com a febril atividade da leitura, que não cessava nem quando ele viajava durante o verão para a Imperial Fazenda de Santa Cruz.
Não sabemos a data exata em que o jovem príncipe começou a usar óculos de leitura, mas tudo indica que foi durante o ano de 1833, pouco antes de completar dez anos, após o falecimento de sua irmã. Os óculos, um presente de Roque Schüch, foram produzidos por Herschel, que veio para o Brasil para atender um cliente muito especial.
Bem mais tarde, o imperador Dom Pedro II, já adulto e com anos de reinado, encomendou a Herschel uma peça valiosa: um pincenê – óculos sem haste que se prende ao nariz por meio de uma mola – de lentes ovais e armação em ouro e casco de tartaruga, tendo na base do aro direito uma coroa imperial com as letras PII. A peça foi preservada por muitos anos pela família imperial brasileira e, atualmente, encontra-se no Museu Inaldo de Lyra Neves- Manta, pertencente à Academia Nacional de Medicina.
Ficou curioso(a) para saber como esta história se desenrola? Será que os oculistas mecânicos chegaram ao Sul do país? Siga para a Parte III - Herschel vem para o Brasil e Chega ao Rio Grande do Sul.
PARTE I – DOS OCULISTAS MECÂNICOS EUROPEUS À DIFICULDADE DE ENXERGAR DE DOM PEDRO
Por Mário Gaiger
Baseado no livro História da Óptica no Brasil, de José Moraes dos Santos Neto