Estamos iniciando abril e, com ele, o Mês da Saúde Ocular, uma campanha de conscientização, desenvolvida pela Gaiger, sobre a importância dos cuidados com os olhos. E, para marcar esta edição, decidimos contar um pouco da história da óptica no Brasil, a partir do livro História da Óptica no Brasil, do historiador e professor José Moraes dos Santos Neto. Esta história foi dividida em quatro partes, que serão publicadas semanalmente ao longo deste mês. A primeira delas relata a chegada dos oculistas mecânicos em nosso país.

PARTE I – DOS OCULISTAS MECÂNICOS EUROPEUS À DIFICULDADE DE ENXERGAR DE DOM PEDRO II

Os oculistas mecânicos eram técnicos muito comuns no continente europeu. Desde o final da Idade Média, acumulavam grande conhecimento em óptica, o que iam transmitindo aos técnicos aprendizes. Possuíam, geralmente, uma ou várias caixas de provas com lentes alemãs, austríacas, italianas, inglesas e francesas. Com a crise no antigo sistema colonial e os processos de independência dos países das Américas, muitos desses profissionais vieram para o Novo Mundo.

O oculista mecânico Joseph Herschel nasceu na Alemanha, mas praticava seu ofício na França. Seus clientes eram, em geral, mestres-escolas, escritores, engenheiros e membros da baixa nobreza. Seu trabalho consistia em fixar moradia em determinada cidade de 90 a 120 dias, sendo que, durante esse período, anunciava a fabricação de óculos. Uma parte de seu capital era proveniente de judeus alemães e franceses, grandes comerciantes de lentes, joias, lunetas, entre outros. Herschel levava consigo uma caixa de provas com modelos de lentes de “pedra-papel inglesa” ou “cristal de rocha lapidado alemão ou francês”. Esta caixa e suas inúmeras lentes tinham como objetivo realizar a refração para depois iniciar o processamento artesanal das lentes e a confecção dos óculos. 

Do outro lado do oceano, no Brasil do século XIX, a maioria dos oculistas fazia suas armações de uma liga metálica e utilizava também ouro, prata e casco de tartaruga. Além disso, esses profissionais executavam serviços de conserto e também a limpeza de lentes e vidros lapidados. Como anuncia o jornal recifense Diário de Pernambuco, o negociante austríaco Jacob Geiger, que administrava a casa de leilões Roscoe & Alwyn, recebia as encomendas para Herschel e, posteriormente, comercializava os óculos em Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Sul de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Tanto Herschel como Geiger eram judeus de origem germânica e mantinham suas atividades comerciais através de relações de confiança, o que facilitou a vinda do oculista alemão para o Brasil. O processo era idêntico ao do comércio de lentes e óculos do início do capitalismo comercial. Uma rede de confiança era estabelecida dentro da comunidade, neste caso, de origem judaica. Um grande capitalista localizado na Europa fornecia as lentes e os demais materiais para a confecção de armações aos poucos membros da família ou a técnicos de confiança, que eram enviados à América do Sul e, aqui, abriam o seu negócio, fazendo circular mercadorias e criando mercados consumidores. 

A documentação sobre a vinda de Herschel ao país e os serviços por ele executados indica que, como técnico oculista bastante experiente, ele recebeu muitas encomendas de óculos de leitura, entre as quais a de um par para uma criança feita pelo Dr. Roque Schüch. Essa criança era Dom Pedro II. Mas esta parte merece um capítulo só para ela. Na semana que vem, retornamos com Dom Pedro II – O Imperador das Letras.

Por Mário Gaiger

Baseado no livro História da Óptica no Brasil, de José Moraes dos Santos Neto

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