A Gaiger Ótica, Joias e Relógios comemora, em 2021, 64 anos de fundação. A trajetória da empresa será contada aqui no blog, em duas publicações durante o mês de aniversário. Convidamos você a mergulhar na história de uma das empresas familiares mais sólidas, longevas e tradicionais de Santa Maria.
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O INÍCIO DA HISTÓRIA DA ÓPTICA NO BRASIL – PARTE IV
No final do século XIX e início do século XX, o cenário havia se transformado. Outros oculistas mecânicos já trabalhavam no Brasil, oferecendo seus serviços e abrindo as janelas de um novo mundo para os seus clientes. Ainda assim, o acesso aos produtos ópticos estava restrito a algumas regiões e cidades brasileiras. É o que você vai conferir a seguir.
PARTE IV – O PIONEIRISMO DE HERSCHEL E A CONSOLIDAÇÃO DO SEGMENTO
Após o pioneirismo de Herschel, chega à cidade de Recife Joseph Merz, que anuncia a confecção de qualquer tipo de óculos com lentes alemãs e austríacas. O oculista mecânico passa a receber encomendas na Loja Grande, na Rua dos Quarteis, e no Largo do Rosário. Merz divulga a confecção de todos os tipos de óculos. Vejamos seu anúncio:
Confecciona todos os tipos de óculos, vista curta ou cansada, a partir de 800 réis o par, receba visita em casa.
É interessante que, após alguns publicações de Merz, em julho de 1840, a senhora Rosa Conceição o procura por meio de outro anúncio, que dizia:
A pessoa que a tempo anunciou óculos, favor anunciar sua morada.
Dias depois, um novo anúncio responde ao pedido de Rosa Conceição:
A senhora que pede óculos, deixe recado na Rua da Cruz número 63 com N. Bieber.
O oculista Merz fixa-se entre Recife e Salvador e passa a vender seus óculos para a elite local, funcionários públicos, religiosos, jornalistas e estudantes. Tornou-se amigo pessoal do cirurgião Dr. Joaquim Aquino Fonseca, que, já em 1850, realizava cirurgia ocular na cidade de Recife. Em 1865, Merz volta para a Europa e envia para Recife o oculista prático José Germann, que se estabelece na Rua Nova, onde continua a confeccionar e vender óculos de grau. O jornal Jornal de Pernambuco publica um interessante anúncio de Germann sobre seus serviços de técnico oculista:
Verdadeiros vidros de óculos, com minhas lentes a vista descansa, uma vez escolhido o vidro de óculos pode durar 10 anos, com os vidros ordinários se está obrigado a mudá-los todos os anos e os ter cada vez mais grossos, o que altera o cristalino do olho. Faça óculos para vista míope, para vista que se cobre de nuvens, para vista que se vê esvoaçar pequenos pontos negros, para a vista que as pálpebras tremem de fraqueza, para vista que os olhos são desiguais, para a vista que se turva com o trabalho e a leitura; para a vista presbita, para vista que não suporta os raios solares e grande claridade, para a vista operada de catarata, para a vista em que as pálpebras estão cercadas de sangue, para evitar que o cristalino do olho se cubra com a catarata. Venha a rua Nova e realize um exame, técnico formado na Alemanha.
Durante todo o período monárquico, a óptica no Brasil ficou restrita a algumas grandes cidades: começou no Recife, expandiu-se para Salvador, São Paulo, Rio Grande e, por fim, Porto Alegre. O mercado consumidor era muito limitado. O país possuía um sistema econômico agrário e, até a primeira metade do século XIX, não existiam fatores favoráveis à industrialização brasileira. A política livre-cambista e as concorrências das manufaturas inglesas impediam a nossa industrialização.
Os profissionais que se estabeleciam no Brasil traziam uma bagagem técnica adquirida, principalmente, na Alemanha e, essencialmente, neste período da história da óptica, pertenciam à comunidade judaica, o que ajudou a consolidar o segmento, pois eles formavam uma rede de contatos e estabeleciam uma relação de confiança, que se iniciou com Herschel e foi continuamente alimentada durante todo século XIX. Assim encerramos nossa jornada pelo início da óptica no Brasil. Este resumo foi escrito com base no livro A História da Óptica no Brasil, de autoria do professor e pesquisador José Moraes dos Santos Neto, a quem agradecemos por compartilhar suas pesquisas com o Brasil e o mundo. Quem sabe, mais adiante, retornamos com mais momentos importantes para a óptica brasileira. Muito obrigado por nos acompanhar até aqui e até a próxima!
Voltar para PARTE III – HERSCHEL VEM PARA O BRASIL E CHEGA AO RIO GRANDE DO SUL
Por Mário Gaiger
Baseado no livro História da Óptica no Brasil, de José Moraes dos Santos Neto
O início da Óptica no Brasil - Parte II
E a nossa jornada pelos primórdios da óptica brasileira continua.
No início dos anos 1830, o trabalho do oculista mecânico alemão Joseph Herschel era bastante valorizado, o que lhe garantiu clientes ilustres. Entre eles, estava o jovem Dom Pedro II. Vamos à segunda parte da história da óptica no Brasil.
PARTE II – DOM PEDRO II, O IMPERADOR DAS LETRAS
É interessante notar um autorretrato feito pelo jovem príncipe aos nove anos de idade, em que ele é representado de óculos. Este registro foi feito em 1834, durante as aulas de seu mestre de desenho Simplício Rodrigues de Sá, discípulo de Jean B. Debret. O fim do Primeiro Reinado foi tenso e, em abril de 1831, o imperador Dom Pedro I retorna a Portugal, deixando no Brasil seu filho, o príncipe regente Dom Pedro, aos cuidados de tutores e de Dona Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho, sua mãe no amor e na criação. Foi pelas mãos prestimosas de Dona Mariana de Verna que o jovem príncipe, com pouca idade, aprendeu a ler e escrever.
O príncipe regente e suas irmãs passavam a maior parte do tempo no Paço Imperial da Quinta da Boa Vista, onde habitavam o primeiro andar. Além das brincadeiras de soldado e dos exercícios de esgrima, dirigidos pelo Coronel Luís Alves de Lima, futuro Duque de Caxias, a leitura era o passatempo preferido do menino. No local, havia uma biblioteca trazida pela Imperatriz Leopoldina em 1871 e também uma coleção de livros do próprio príncipe, localizada no espaço palaciano chamado de Torreão Velho. O menino, a cada ano, aprimorava a sua já vasta cultura com a febril atividade da leitura, que não cessava nem quando ele viajava durante o verão para a Imperial Fazenda de Santa Cruz.
Não sabemos a data exata em que o jovem príncipe começou a usar óculos de leitura, mas tudo indica que foi durante o ano de 1833, pouco antes de completar dez anos, após o falecimento de sua irmã. Os óculos, um presente de Roque Schüch, foram produzidos por Herschel, que veio para o Brasil para atender um cliente muito especial.
Bem mais tarde, o imperador Dom Pedro II, já adulto e com anos de reinado, encomendou a Herschel uma peça valiosa: um pincenê – óculos sem haste que se prende ao nariz por meio de uma mola – de lentes ovais e armação em ouro e casco de tartaruga, tendo na base do aro direito uma coroa imperial com as letras PII. A peça foi preservada por muitos anos pela família imperial brasileira e, atualmente, encontra-se no Museu Inaldo de Lyra Neves- Manta, pertencente à Academia Nacional de Medicina.
Ficou curioso(a) para saber como esta história se desenrola? Será que os oculistas mecânicos chegaram ao Sul do país? Siga para a Parte III - Herschel vem para o Brasil e Chega ao Rio Grande do Sul.
PARTE I – DOS OCULISTAS MECÂNICOS EUROPEUS À DIFICULDADE DE ENXERGAR DE DOM PEDRO
Por Mário Gaiger
Baseado no livro História da Óptica no Brasil, de José Moraes dos Santos Neto