A vida dá sempre muitas voltas. Nossos planos mudam por diversas razões. Quando jovem, eu sentia atração pela aviação. Fui, junto com Alfredo Sampaio, fazer a prova no 5º Comando Aéreo e Médico no Hospital do Exército. Naquele tempo, não existia a Base Área em Camobi. Alfredo Sampaio se tornou o primeiro santa-mariense a ser piloto e o primeiro em voos internacionais. Eu voltei para Santa Maria, tentei fazer vestibular em Porto Alegre, mas não obtive êxito. Os excedentes da minha turma foram acolhidos em Santa Maria e formaram a primeira turma da UFSM.
Tínhamos uma empresa de joias e relógios na Av. Rio Branco. Trabalhava com meus pais nessa loja. Nesta época, surgiu a oportunidade de fazer um curso de ótica em Caxias do Sul. Fiquei lá por seis meses e prestei exames em Porto Alegre. A prova era difícil, aplicada por dois oftalmologistas e dois óticos. Prova oral, escrita e prática. Tive sucesso. Voltei para Santa Maria com o objetivo de abrir a minha própria empresa.
Naquele tempo, Seu João Ilha tinha uma relojoaria na Rua do Acampamento e desejava voltar para Tupanciretã. Ofereceu-me a mesma em condições especiais. Em 4 de julho de 1957, abri minha empresa na Rua do Acampamento, nº 405. A Rua do Acampamento era de mão dupla e tinha o calçamento irregular. Por ali, passavam todos os feirantes e os distribuidores de leite e pão. Abria a loja às 6h para conquistar esta clientela. Meu lema era: “Em Santa Maria, nenhuma pessoa deixa de estudar e nem de se alfabetizar por falta de óculos”. Para o Ambulatório da Igreja do Rosário, do Padre Erasmo e do Dr. Farret, foram feitos 850 pares de óculos e, para o Mobral, mais de 300.
Naquele tempo, muitas cidades do interior não tinham oftalmologistas. Muitas pessoas, até mesmo de Santa Catarina, deslocavam-se até Santa Maria para consultar e fazer seus óculos. Às vezes, trabalhava até tarde para entregar óculos de clientes que viajavam às 7h30 no trem da Serra. Também acompanhava oftalmologistas que atendiam nessas cidades, tanto no Rio Grande do Sul, como em Santa Catarina e no Paraná.
Fruto deste trabalho, a empresa cresceu e, em 1982, adquiri um imóvel na Rua Dr. Bozano, Calçadão, onde construí um prédio de três andares, sendo dois deles de loja. Ao longo desses anos, acolhi pessoas que vinham estudar e precisavam de um lugar para morar e trabalhar. Quando me lembro disso, sinto uma satisfação enorme em ter dado oportunidade a vários jovens que moraram em minha casa, estudaram aqui e conquistaram uma profissão. Três deles abriram suas próprias empresas.
Aos poucos, meus filhos começaram a trabalhar na empresa. Hoje, já tenho um neto que segue a trajetória da família. Agradeço a Deus por esta caminhada e por tudo que a empresa realizou em benefício das pessoas e de Santa Maria. Também sou muito grato à Mãe Medianeira por estes 64 anos de história, por todos que passaram pela loja e levaram parte do meu coração. Muito obrigado aos nossos colaboradores, fornecedores, clientes e amigos por nos inspirarem todos os dias.